17/06/2017

5 mitos populares a respeito da Teologia da Última Geração

Escrito por Kevin Paulson (21 de maio de 2017) – traduzido por Marcell Dalle Carbonare

Em alguns círculos do adventismo contemporâneo, o que veio a ser conhecida em anos recentes como Teologia da Última Geração, tornou-se um epíteto. Pontuada com aspas, desprezo, e a mancha do extremismo implícito, essa crença é considerada por alguns como um exemplo de sistema de pensamento que os adventistas espiritualmente equilibrados, teologicamente maduros e biblicamente informados deveriam certamente evitar.



Mas os críticos dessa estrutura doutrinária construíram ao redor dela um conjunto de suposições que a evidência sugere que deveriam ser chamadas de mitos. Essas noções merecem exame cuidadoso e sucinto:

Mito nº 1 - A Teologia da Última Geração baseia-se nos escritos de Ellen White ao invés da Bíblia

Na realidade, a Teologia da Última Geração é um tema encontrado por toda a Bíblia. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento falam de um momento quando a glória de Deus – identificada como o Seu caráter (Êxodo 33:18-19; 34:6-7; Romanos 3:23) – será revelada ao mundo (Números 14:21; Isaías. 60:1-2; Romanos 8:18-19; II Coríntios. 3:18; Efésios. 3:16-21; 5:25-27; Filipenses 1:11). Isso nos ajuda a entender melhor a mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14, na qual a humanidade é exortada a “temer a Deus e dar-Lhe glória” (verso 7).

O Antigo Testamento introduz o conceito de um remanescente fiel no fim dos tempos cujas vidas serão livres de pecado através da graça transformadora de Deus. O profeta Sofonias prevê essa demonstração no seguinte verso:

"O remanescente de Israel não cometerá iniquidade, nem proferirá mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa." (Sofonias 3:13)

O conceito de total santificação como um pré-requisito para o retorno de Jesus é encontrado em algumas passagens do Novo Testamento:

"E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo." (I Tessalonicenses 5:23)

"Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz." (II Pedro 3:11-12, 14)

"Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro." (I João 3:2-3)

As duas últimas passagens são especialmente claras em notar que a total remoção do pecado da vida cristã deve ocorrer antes da segunda vinda, e não quando esta acontecer. É por isso que Pedro exorta o cristão a “apressar” a vinda de Jesus ao descrever a santidade prática (II Pedro 3:12), e é por esse motivo que ele exorta os crentes a serem “achados por Ele em paz, sem mancha, e inculpáveis (verso 14). Perceba como é necessário ser “achado” nessa condição quando Jesus vier, o que significa que essa preparação deve ser completada antes que Ele apareça.

O mesmo é verdade a respeito da passagem de I João. São aqueles que tem a “esperança” na vinda de Jesus que se purificarão “assim como Ele é puro” (I João 3:3). Isso significa que a purificação descrita é tanto uma questão de cooperação divino- humana quanto algo atingido enquanto ainda temos a esperança de Sua vinda. Quando Ele aparecer nas nuvens, o retorno de Jesus não será mais uma esperança, mas uma realidade. É enquanto Sua vinda é nossa esperança que devemos reivindicar Seu poder para purificar nossas vidas do pecado, “assim como Ele é puro”.

E ecoando o profeta Sofonias, João, o revelador, declara a respeito daqueles que serão transladados sem ver a morte na vinda de Jesus:

"E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus." (Apocalipse 14:5)

Ellen White, portanto, marcha ao lado da Escritura quando escreve:

"Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo for perfeitamente reproduzido em Seu povo, então Ele virá para reclamá-los como Seus. É privilégio do cristão não apenas aguardar, mas apressar a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (II Pedro 3:12).
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Mito nº 2 - A Teologia da Última Geração contradiz a doutrina bíblica da salvação pela graça mediante a fé

A salvação bíblica é primeiramente do pecado (Mateus 1:21), e não apenas uma mera provisão de um ticket para o Céu. Essa salvação do pecado, alcançada pela graça divina mediante a fé, inclui tanto o perdão dos pecados passados (Romanos 3:24; Efésios 1:7) quanto a regeneração e santificação concretizadas na vida dos cristãos por meio do Espírito Santo (II Tessalonicenses 2:13; Tito 3:5). Essa transformação através do Espírito é contrastada pelo apóstolo Paulo com as próprias obras, as quais não podem salvar a ninguém (Tito 3:5).

Esse é um ponto frequentemente esquecido por aqueles que se esforçam para ensinar a doutrina bíblica da salvação pela graça mediante da fé. Eles presumem que, quando a Bíblia diz que não somos salvos pelas obras (Romanos 3:20,28; Gálatas 2:16; Efésios 2:8-9), ela está falando de qualquer coisa que os seres humanos façam, sob quaisquer circunstâncias, incluindo o que é feito através do poder concedido na conversão. Mas isso não é o que a Bíblia ensina. Tito 3:5 não apenas traça um contraste entre as “obras de justiça que fizemos” e o “lavar regenerador, e renovador do Espírito Santo”, mas o apóstolo também é claro em dizer que “as obras da Lei” que não justificam o cristão são, de fato, as obras do próprio “eu” separado de Cristo (Romanos 2:17-23; Efésios 2:8), e não a obediência capacitada pelo Espírito, tornada possível pela conversão. Essa obediência capacitada pelo Espírito na verdade é descrita por Paulo como uma condição para a salvação:

"Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Romanos 8:3-4)

Se a santificação bíblica através do poder do Espírito Santo é, de fato, parte da salvação (II Tessalonicences 2:13), então fica claro pela Bíblia que a salvação pela graça mediante a fé é definitivamente o mesmo que Teologia da Última Geração. A justiça pela fé, como identificada nas Escrituras, nunca é identificada apenas como perdão (ou justificação). A experiência dessa justiça através de santidade prática, tornada possível pela comunicação de força divina (Filipenses 2:12-13), é também parte da justificação pela fé bíblica. Os numerosos exemplos práticos de justiça vivida pela fé, no livro de Hebreus, capítulo 11, dão evidência dessa realidade.



Mito nº 3 - A Teologia da Última Geração ensina que após o fechamento da porta da graça o povo de Deus permanecerá de pé apenas por sua própria força

Onde essa suposição começou, é possível adivinhar. Do meu conhecimento, ninguém que tenha ensinado a Teologia da Última Geração, em qualquer momento da história adventista, jamais ensinou que os santos, em algum momento após o fechamento da porta da graça ou qualquer outra ocasião, permanecerão de pé por seu próprio poder. A única coisa sem a qual os santos permanecerão, durante o tempo de angústia, é de contínua disponibilidade de perdão. Seus pecados passados serão perdoados, mas como eles atingiram, através do poder divino, a total conquista sobre o pecado em suas vidas (Sofonias 3:13; I Tessalonicenses 5:23; II Pedro 3:10-14; I João 3:2-3; Apocalipse 14:5), a obra do Mediador no santuário celestial pode enfim ser finalizada.

A Bíblia descreve o fim da obra do Mediador no céu com o seguinte pronunciamento, dado que o tempo de graça está prestes a cessar:

"Quem é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seja sujo ainda; e quem é justo, seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado ainda." (Apocalipse 22:11)

Ellen White, ecoando essa passagem, descreve a condição espiritual do povo de Deus que passará por esse período:

"Vi também que muitos não compreendem o que devem ser a fim de viverem à vista do Senhor sem um sumo sacerdote no santuário, durante o tempo de angústia. Os que hão de receber o selo do Deus vivo, e ser protegidos, no tempo de angústia, devem refletir completamente a imagem de Jesus... Vi que ninguém poderia participar do “refrigério” a menos que obtivesse a vitória sobre toda tentação, orgulho, egoísmo, amor ao mundo, e sobre toda má palavra e ação."
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"Estamos buscando Sua plenitude, chegando cada vez mais alto, procurando atingir a perfeição de Seu caráter? Quando os servos de Deus chegarem a esse ponto, eles serão selados em suas frontes. O anjo relator declarará:" “Feito está!”
³

"Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo cessar no santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de pecado, pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio esforço diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal. Enquanto o juízo investigativo prosseguir no Céu, enquanto os pecados dos crentes arrependidos estão sendo removidos do santuário, deve haver uma obra especial de purificação, ou de afastamento de pecado, entre o povo de Deus na Terra."
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Mas permanecer sem um mediador não é a mesma coisa que permanecer sem o poder divino. O trabalho de um mediador é resolver diferenças. Quando a Chrysler e a United Auto Workers se dão bem, nenhum mediador do governo é acionado. As diferenças entre Deus e a humanidade são chamadas de pecados. Em outras palavras, se não há pecado cometido não há necessidade de Mediador. Mas Ellen White é clara em dizer que “nossa santificação é obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
5 Não existe competição entre os membros da Divindade no que concerne à salvação. Todos estão envolvidos em cada etapa do processo. O crente perfeitamente vitorioso necessita de Cristo tanto quanto aquele que cai em pecado. A única diferença é que aquele que está caindo em pecado necessita tanto de perdão quanto de justiça capacitadora, enquanto aquele que obteve a vitória necessita apenas da justiça capacitadora. Mas de um jeito ou de outro, tudo depende da justiça de Cristo. Nunca é nossa própria justiça.

Mito nº 4 - A Teologia da Última Geração ensina que os requerimentos de Deus são inconsistentes

Primeiramente, é um fato da história sagrada que cada geração sucessivamente recebe mais luz divina do que as anteriores e, portanto, maior responsabilidade espiritual. Provérbios 4:18 observa que “o caminho do justo é como a aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. Na parábola do semeador Jesus descreve a semente caindo em solo bom como atingindo níveis diferentes de crescimento - “e outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta” (Mateus 13:9) – todos entre os salvos. Em outro lugar Jesus declarou:

"E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá." (Lucas 12:48)

Ellen White é clara em dizer, obviamente, que a condição de vida eterna em todas as eras tem sido a mesma que no princípio no Éden – perfeita obediência à Lei de Deus.
6 Mas, como nosso Deus amoroso não leva em conta os tempos de ignorância (Atos 17:30), e diz que “aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tiago 4:17), devemos concluir que a perfeita obediência que Deus requer é proporcional ao volume de luz e verdade revelada. É por isso que Ellen White fala da intercessão de Cristo no santuário celestial como incluindo a mediação pelos pecados de ignorância: 

"A mente de todos os que abraçam esta mensagem, é dirigida ao lugar santíssimo, onde Jesus está em pé diante da arca, fazendo Sua intercessão final por todos aqueles por quem a misericórdia ainda espera, e pelos que ignorantemente têm violado a lei de Deus. Esta expiação é feita tanto pelos justos mortos como pelos justos vivos. Inclui todos os que morreram confiando em Cristo, mas que, não tendo recebido a luz sobre os mandamentos de Deus, têm, por ignorância, pecado, transgredindo seus preceitos."
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Ellen White também é clara em dizer que as diferentes gerações através da história foram responsabilizadas por diferentes níveis de luz e verdade, em contraste com a última geração:

"Somos responsáveis pelos privilégios que desfrutamos, e pela luz que incide em nosso caminho. Os que viveram nas gerações passadas foram responsáveis pela luz que lhes foi concedida. Sua mente foi despertada acerca de vários pontos da Escritura que lhes serviram de prova. Não compreenderam, porém, as verdades que hoje entendemos. Não foram responsáveis pela luz que não tiveram. Tinham a Bíblia, como nós; mas o tempo para ser esclarecida a verdade especial quanto às cenas finais da história terrestre, é o das últimas gerações que vivem na Terra. Verdades especiais foram adaptadas às condições das gerações à medida que existiram. A verdade presente, que é uma prova para o povo desta geração, não era prova aos das gerações que longe ficaram... Somos responsáveis somente pela luz que incide sobre nós."
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A última geração da história, que passará pelo grande tempo de angústia após o fechamento da porta da graça, terá uma experiência única. “Naquele tempo os justos devem viver à vista de um Deus santo sem intercessor”.
9 Totalmente cientes de todo conselho de Deus – ou pelos menos daquilo que é essencial para a total conquista sobre o pecado – por Sua graça eles viverão de acordo. Antes daquele período, todo pecado de ignorância em suas vidas terá sido revelado e conquistado, pois o Mediador não mais estará disponível para realizar expiação pelo pecado, seja de ignorância ou qualquer outro. Por esse motivo, Ellen White declara que na segunda vinda “o Refinador não Se ocupará com o processo de purificação, para remover-lhes os pecados e a corrupção. Tudo isso deve ser realizado durante o tempo da graça.” 10

Em épocas passadas Deus pôde usar alguém como Martinho Lutero, um bebedor de cerveja, antissemita, cujo ódio pelos judeus seria mais tarde celebrado pelos nazistas.
11 Mas nos momentos finais da controvérsia com o mal, Deus busca uma maior conquista daqueles que o servem. Poucos no atual debate discordariam com relação a isso. (Alguns de nossos membros mais mundanos podem não ver problema algum em beber cerveja, mas duvido que até eles iriam querer um antissemita ensinando em um de nossos colégios ou universidades!) 

Em resumo, os requerimentos de Deus não são inconsistentes; a perfeita obediência sempre foi requerida através da graça capacitadora de Deus. Mas como Deus é infinitamente justo em Suas expectativas, os seres humanos são obrigados a aderir apenas ao nível de luz e verdade que eles conhecem (Atos 17:30; Tiago 4:17), com os pecados de ignorância sendo cobertos pelo Mediador celestial.
12 No entanto, maior luz e verdade trazem maiores responsabilidades (Provérbios 4:18; Mateus 13:8; Lucas 12:48), o que significa que a última geração de crentes possuirá o maior volume de luz na história humana, e consequentemente o maior nível de responsabilidade. Mas ninguém precisa se desesperar, pois como a serva do Senhor afirma a respeito dos requerimentos de Deus: “Todas as Suas ordens são promessas habilitadoras.” 13


Mito nº 5 - A Teologia da Última Geração é primeiramente o produto dos ensinos de A. T. Jones, E. J. Waggoner, e M. L. Andreasen, e nunca foi parte do pensamento tradicional adventista do sétimo dia 


Na verdade aquilo que em tempos recentes veio a ser conhecida por Teologia da Última Geração é um tema profundamente embutido no DNA teológico do adventismo do sétimo dia clássico, estendendo-se até a origem de nossa denominação. Os primeiros luminares adventistas, como Joseph Bates14, Thiago White15, Stephen Haskell16, D. T. Bordeau17 e W. W. Prescott18, apresentaram aspectos-chave dessa teologia em seus escritos e em suas pregações. Muito disso foi documentado por Herbert Douglass em seu livro “Why Jesus Waits”.19 Uma lista ainda maior de adventistas notáveis por seu suporte a essa teologia é documentada por Douglass em seu último livro, “A Fork In The Road”.20 

Em anos recentes, proeminentes líderes adventistas como W. H. Branson21, o qual serviu como presidente da conferência geral de 1950 a 1954; Herbert Douglass22, C. Mervyn Maxwell23, Dennis E. Priebe24 e J. R. Zurcher25 fizeram desses ensinos uma peça central de seu ministério. O livro de Zurcher, de 1999, Touched With Our Feelings (Tocado Por Nossos Sentimentos)26, bem como a obra de Ralph Larson, The Word Was Made Flesh27, demonstraram a onipresença – ao longo de 1 século de história adventista – da visão pós-lapsariana da natureza humana de Cristo, um componente chave da Teologia da Última Geração. 

O presidente da Conferência Geral, Robert H. Pierson, que serviu nessa posição de 1966 a 1978, e era também um forte advogado dessa visão, escreveu assim: 

"A última geração do povo de Deus deve revelar o caráter de Jesus ao mundo. Eles vencerão assim como Ele venceu. Eles serão vitoriosos, representantes vivos de Seu Mestre. O poder que capacita a viver essa vida, a alcançar esse caráter, vem de Jesus. Apenas através de Sua justiça imputada e comunicada podemos prevalecer."28 

Mais recentemente, Ted N. C. Wilson, eleito presidente da Conferência Geral em junho de 2010, deu proeminente atenção em seu sermão inaugural à declaração de Ellen White, mencionada anteriormente, do livro Parábolas de Jesus, p. 69, e a outra declaração em Caminho a Cristo, p. 63, que declara – contrariando muito do que é ensinado atualmente em alguns círculos adventistas contemporâneos, no que diz respeito ao evangelho – que a base da salvação do cristão inclui tanto a justificação quanto a santificação.29 Em uma mensagem aos obreiros da Conferência Geral após a sessão de Atlanta, Wilson declarou: 

"A crença de que os cristãos não podem apressar ou adiar a segunda vinda é um engano."30 

Mais tarde, no Concílio Anual de 2014, Wilson mais uma vez enfatizou um tema-chave da Teologia da Última Geração ao destacar a necessidade de confessar e abandonar o pecado em preparação para permanecer sem um Mediador após o fechamento da porta da graça.31 No ano seguinte, em um encontro da Sociedade Teológica Adventista, Wilson foi perguntado: “O que você acha da Teologia da Última Geração?”32 Ao formular sua resposta para evitar que esse termo seja definido por outros, além de evitar que qualquer noção de perfeição seja alcançada pelas próprias forças33, Wilson respondeu com clareza inconfundível: 

"Inclinando-se completamente sobre Cristo e Sua justiça, precisamos crer que Cristo nos dará vitória sobre o pecado através de Seu poder, e não de nosso próprio poder (Filipenses 4:13; Romanos 12:1,2). De outro modo, o cristianismo não tem poder. Filipenses 2:5 nos diz, “de sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. Enquanto nos consagramos a Cristo e permitimos que Ele opere em nós para nos manter perto de Si e de Sua Palavra, podemos então compreender a bela citação de Parábolas de Jesus: “Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo for perfeitamente reproduzido em Seu povo, então Ele virá para reclamá-los como Seus". (p. 69).34 

É fácil perceber como depois de pesquisar mais de um século de literatura adventista, o erudito anglicano Geoffrey Paxton pôde escrever, em 1977: “A doutrina do aperfeiçoamento da geração final permanece próxima ao coração da teologia adventista”.35 Nesse mesmo contexto, Paxton declara que, segundo seu conhecimento, seria impossível sustentar um ponto de vista anti-perfeição no adventismo pré-1950.36 Dois historiadores mais recentes – um deles ex-adventista, e o outro de um contexto adventista, mas que nunca se batizou – são igualmente enfáticos nesse ponto: 

Se Cristo tivesse uma vantagem injusta, como esperar que indivíduos sigam Seu exemplo em viver uma vida perfeita? O problema era particularmente agudo, uma vez que a perfeição havia sido sugerida por Ellen White como o objetivo do povo adventista: “Enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está fazendo expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo”. O chamado dela à perfeição era urgente: “Jesus não muda o caráter em Sua vinda. A obra de transformação deve ser realizada agora...”. Antes de Heppenstall, nenhum autor adventista importante negou a possibilidade de perfeição. Ellen White havia sido inequívoca: “Assim como o Filho do Homem foi perfeito em Sua esfera, assim os Seus seguidores devem ser perfeitos em suas vidas”.37

Assim, sem querer de modo algum denegrir as contribuições massivas ao pensamento adventista feitas por A. T. Jones, E. J. Waggoner e M. L. Andreasen, esses homens não podem legitimamente assumir a responsabilidade por introduzirem na igreja o que muitos hoje conhecem como Teologia da Última Geração. Muitos que citam esses três homens como supostas fontes principais dessa doutrina dão provas de fazê-lo como meio de sugerir que esse ensinamento é e tem sido mantido principalmente por pessoas que, por qualquer motivo, se encontram descontentes e marginalizadas dentro da família adventista. 

Mas como nosso estudo demonstrou, os fatos dizem outra coisa. Seja qual for a objeção de alguém para com a Teologia da Última Geração, esse ensinamento não pode ser descartado como sendo produto de uma ala marginalizada no que diz respeito ao pensamento e história adventistas. Pelo contrário, seus princípios fundamentais – e o apoio substancial que eles encontram nas Escrituras e nos escritos do Espírito de Profecia – fizeram parte do consenso adventista pela maior parte da experiência corporativa da igreja.

Referências

1. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 69.
2. ----Primeiros Escritos, p. 71.
3. ----Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia vol. 6, p. 1118.
4. ----O Grande Conflito, p. 425.
5. ----Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 7, p. 908.
6. ----Caminho a Cristo p. 62; O Maior Discurso de Cristo, p. 76; Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 381.
7. ----Primeiros Escritos, p. 254.
8. ----Testemunhos para a Igreja vol. 2, pp. 692-693.
9. ----O Grande Conflito, p. 614.
10. ----Testemunhos para a Igreja, vol. 2, p. 355.
11. Ver William L. Shirer, A Ascensão e Queda do Terceiro Reich: Uma História da Alemanha Nazista (New York: Simon & Schuster, 1960), pp. 91,236.
12. ----Primeiros Escritos, p. 254.
13. ----Parábolas de Jesus, p. 333.
14. Joseph Bates, “Midnight Cry in the Past,” Review and Herald, December 1858, p. 21.
15. James White, Review and Herald, Jan. 29, 1857; Life Sketches of James White and Ellen G. White, p. 431.
16. Stephen N. Haskell, “A Few Thoughts on the Philadelphia and Laodicean Churches,” Review and Herald, Nov. 6, 1856, p. 6.
17. D.T. Bordeau, “Sanctification: or Living Holiness,” Review and Herald, Aug. 2, 1864.
18. W.W. Prescott, “The Gospel Message for Today,” General Conference Bulletin, April 2, 1903, pp. 53,54.
19. Herbert E. Douglass, Why Jesus Waits: How the Sanctuary Doctrine Explains the Mission of the Seventh-day Adventist Church (Washington, D.C: Review and Herald Publishing Assn, 1976), pp. 47-49.
20. A Fork in the Road: Questions on Doctrine: The Historic Adventist Divide of 1957(Coldwater, MI: Remnant Publications, 2008), p. 19. Leading Adventist proponents of Last Generation Theology referenced here include C.P. Bollman, C. Lester Bond, F.G. Clifford, J.B. Conley, Gwynne Dalrymple, A.G. Daniels, Christian Edwardson, I.H. Evans, T.M. French, Fenton Edwin Froom, J.E. Fulton, E.F. Hackman, Carlyle B. Haynes, Benjamin Hoffman, W.E. Howell, Varner Johns, M.E. Kern, D. H. Kress, Frederick Lee, Meade MacGuire, J.L. McElhany, J.A. McMillan, Merlin Neff, Don F. Neufeld, A.V. Olson, W.E. Read, G.W. Reaser, H.L. Rudy, E.K. Slade, Uriah Smith, C.M. Snow, J.C. Stevens, Oscar Tait, G.B. Thompson, A.W. Truman, Allen Walker, F.M. Wilcox, L.A. Wilcox, M.C. Wilcox, William Wirth, L.H. Wood, and Dallas Young.
21. W.H. Branson, Drama of the Ages (Washington, D.C: Review and Herald Publishing Assn, 1950), pp. 155-161.
22. Herbert Douglass, “Men of Faith: The Showcase of God’s Grace,” Perfection: The Impossible Possibility (Nashville, TN: Southern Publishing Assn, 1975), pp. 13-56; Why Jesus Waits: How the Sanctuary Doctrine Explains the Mission of the Seventh-day Adventist Church (Washington, D.C: Review and Herald Publishing Assn, 1976); Jesus—The Benchmark of Humanity (With Leo Van Dolson) (Nashville, TN: Southern Publishing Assn, 1977); The End: Unique Voice of Adventists About the Return of Jesus (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Assn, 1979); The Heartbeat of Adventism: The Great Controversy Theme in the Writings of Ellen G. White (Boise, ID: Pacific Press Publishing Assn, 2010).
23. C. Mervyn Maxwell, “Ready for His Appearing,” Perfection: The Impossible Possibility(Nashville, TN: Southern Publishing Assn, 1975), pp. 141-200.
24. Dennis E. Priebe, Face a Face com o Verdadeiro Evangelho (Boise, ID: Pacific Press Publishing Assn, 1985).
25. J.R. Zurcher, Touched With Our Feelings: A Historical Survey of Adventist Thought on the Human Nature of Christ (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Assn, 1999).
26. Ibid.
27. Ralph Larson, The Word Was Made Flesh: One Hundred Years of Seventh-day Adventist Christology, 1852-1952 (Cherry Valley, CA: The Cherrystone Press, 1986).
28. Robert H. Pierson, na contracapa de W.D. Frazee, Ransom and Reunion Through the Sanctuary (Wildwood, GA: Pioneers Memorial, 1994). Veja também Pierson, We Still Believe (Washington, D.C: Review and Herald Publishing Assn, 1975), p. 243.
29. Ted N.C. Wilson, “Go Forward!” Sermão pregado na 59º Sessão Mundial da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Atlanta, Georgia, 3 de Julho de 2010. http://archives.adventistreview.org/article/3614/archives/issue-2010-1526/go-forward
30. “New Adventist president envisions a church marked by prayer, revival,” Adventist News Network, Aug. 2, 2010.
31.http://www.adventistreview.org/church-news/%E2%80%98god%E2%80%99s-prophetic-movement,-message,-and-mission-and-theirattempted-neutralization-by-the-devil%E2%80%99
32.https://m.facebook.com/PastorTedWilson/photos/a.893482760707617.1073741827.221442104578356/924770757578817/?type=3&source=48
33. Ibid.
34. Ibid.
35. Geoffrey J. Paxton, O Abalo do Adventismo (Wilmington, DE: Zenith Publishing Co, 1977), p. 114.
36. Ibid, p. 113.
37. Malcolm Bull and Keith Lockhart, Seeking a Sanctuary: Seventh-day Adventism and the American Dream
 (Bloomington, IN: Indiana University Press, 2007), pp. 86-87.

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