06/07/2014

O Engano Ômega

“O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol” – Eclesiastes 1:9

Tem-se dito que os que deixam de aprender da história estão fadados a repetir seus erros. Para os adventistas do sétimo dia esta declaração é mais que um clichê. É uma certeza.

“Não vos enganeis; muitos se afastarão da fé, dando ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Temos agora perante nós o alfa deste perigo. O ômega será de natureza mais assustadora” – Mensagens Escolhidas, vol 1, p 197

Esta declaração foi feita em julho de 1904, quando a denominação enfrentava um batalhão de problemas quase além da imaginação. A perda de sua maior instituição e o enfraquecimento da obra médica vital. Apostasia em larga escala entre alguns de seus homens mais influentes. Heresias tão sutis que suas implicações passavam sem serem reconhecidas mesmo pelos que as proclamavam. Manipulações legais que despejavam fortunas em algumas áreas enquanto o campo mundial lutava para sobreviver. E o iminente ataque de Ballenger, ferindo a própria base lógica do adventismo. Era um tempo em que se necessitava de todas as energias de cada membro fiel da igreja para manter o navio à tona, e contudo, em meios à crise, Ellen White tomou tempo para advertir a igreja sobre um perigo que ainda estava no futuro.

“No livro Living Temple acha-se apresentado o alfa de heresias letais. Seguir-se-á o ômega, e será recebido por aqueles que não estiverem dispostos a atender à advertência dada por Deus” Mensagens Escolhidas, vol 1, p 200

Ômega. Alguma outra coisa viria, suficientemente parecida com a crise então presente para justificar o encadeamento dos dois eventos por letras tiradas de um mesmo alfabeto. Além disso, a serva de Deus disse pouca coisa. Foi uma advertência enigmática, gritada de dentro do vendaval de uma crise devoradora quase como um aparte, uma dádiva para o futuro dada num momento quando ela quase não tinha tempo para nada exceto o presente. E contudo, Ellen White deixou algumas pistas quanto ao que o ômega poderia envolver, e, pela urgência de sua advertência, parece ser essencial que tentemos encaixá-las umas com as outras.

Do Espírito de Profecia podemos depreender com certeza pelo menos três coisas sobre o ômega. Não era uma parte da apostasia do alfa; ele iria “seguir” mais tarde. Seria até mais letal que o alfa, um desafio tão terrível que Ellen White “tremeu” por nosso povo. E ele “será recebido por aqueles que não estiverem dispostos a atender à advertência dada por Deus”. Em outras palavras, aqueles que escolhem seguir o conselho de Deus apenas quando convém a suas preferência pessoais, aparentemente serão alvos fáceis de oportunidade para o engano do ômega.

Mas se investigarmos a escolha do simbolismo que Ellen White faz, parece haver até mais do que podemos decifrar. Em 1904 ela vê que algo terrível está acontecendo com a igreja. Portas que uma vez estavam abertas ao evangelho estão se fechando. Até as verdades mais básicas estão sendo questionadas de todas as formas. É uma experiência horrível que ela teme abertamente lhe possa custar a vida, e olhando para o futuro, ela vê que isto acontecerá novamente, próximo ao fim do tempo. De alguma forma o povo de Deus deve ser avisado, e a sra. White tenta obter uma figura para descrever dois eventos separados pelo tempo mas de natureza similar. Ao descrever a grande apostasia do futuro, ela não usa a letra seguinte ao alfa no alfabeto grego. Ela não advertiu sobre uma apostasia “beta”ou “gama” ou mesmo “delta”. Ao invés disso ela salta bem adiante, para o fim do alfabeto, e escolhe um símbolo que Cristo usou em conexão com o fim. Alfa e ômega. As implicações são claras. Há dois eventos, separados mas similares. Um ocorre no fim do tempo. E, se se entende o primeiro, reconhecer-se-á o segundo.

De uma outra coisa podemos estar quase certos: o ômega atacará doutrinas básicas da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Quase todas as grandes apostasias têm incluído uniformemente três áreas de ataque: O santuário, o juízo investigativo e o Espírito de Profecia – sempre em nome de grande bem para a igreja, disfarçadas em termos como reforma. “O inimigo das lamas tem procurado introduzir a suposição de que uma grande reforma devia efetuar-se entre os Adventistas do Sétimo Dia, e que essa reforma consistiria em renunciar às doutrinas que se erguem como pilares de nossa fé, e empenhar-se num processo de reorganização”. (Idem, p 204) Tal apostasia, advertiu ela, poderia ter efeitos devastadores, pois o Adventismo é um sistema de verdades altamente interrelacionadas; ataque uma, e as peças de dominó começam a tombar. Os “princípios da verdade”, nos quais a igreja remanescente tem crido por longo tempo “seriam rejeitados”. Uma “nova organização” seria estabelecida. Seriam escritos livros de uma “ordem diferente”. Filosofia intelectual tomaria o lugar das verdades fundamentais da igreja. O sábado seria “menosprezado”. E o novo movimento seria liderado por homens agressivos que não permitiriam a “coisa alguma… opor-se”. Idem, p 204,205

Era uma cena arrepiante. Sob a bandeira de “nova luz” poderosas forças procurariam moldar a igreja de Deus em alguma nova forma irreconhecível. Agiriam eles em nome de uma reforma, esquecendo que a reforma que a bíblia requer é uma reforma de vida, não da doutrina estabelecida; esquecendo-se, também, da advertência de Ellen White de que a igreja não necessitava de nova luz tanto quanto de viver à altura da luz que já possuía. E no processo eles certamente introduziriam, dessa forma, profunda confusão sobre uma das questões mais básicas na igreja: Como devem viver os Adventistas?

Não há nada de sutil relacionado com o adventismo. Ele não sussurra ao mundo, mas grita. Ele começa, segundo a imagem da bíblia, com anjos, falando em alta voz do meio do céu. ele termina com o mais poderoso terremoto da história. E tendo obtido a atenção do mundo, exibe a lei de Deus e proclama que o juízo já começou. Há pouco lugar, numa religião assim, para padrões dúplices, para pregar uma coisa e fazer outra. O povo de Deus reclama estar vivendo no grande dia antitípico da expiação, com suas vidas sendo passadas em revista final perante Deus, e uma das maiores falhas concebíveis seria dar tal mensagem e viver como se ela não fosse verdadeira.

Não obstante, este é o resultado invariável de um ataque ao santuário ou ao juízo investigativo. O adventismo produz um problema inevitável para todo indivíduo que já tentou reescrever a verdade adventista. O santuário e a santificação estão relacionados de maneira indivisível. Ataque um, e causará dano também ao outro. Remova a verdade do santuário com sua poderosa mensagem de verdadeira reforma, e você se verá logo perdido numa confusão de termos teológicos, tentando explicar porque as obras são até necessárias. Ataque a santificação, e você não poderá descansar confortavelmente até que remova a persistente luz do santuário.

Há uma possibilidade de que também isto seja repetido como parte do ômega? Talvez. E um dos melhores esclarecimentos encontra-se no simbolismo usado pela mensageira de Deus. Lembre-se de que alfa e ômega são duas letras nos extremos opostos do mesmo alfabeto. Elas estão ligadas por algo em comum, não obstante estão voltadas para direções opostas. Há aqui um significado que se torna evidente com um pouco de reflexão.

Para captá-lo tem-se de olhar em retrospecto para a teologia do alfa. Durante toda a sua vida Kellogg firmemente proclamou sua crença no cristianismo. Superficialmente examinadas, mesmo as declarações que ele fez em sua última entrevista com os pastores do tabernáculo de Battle Creek soam como palavras de um cristão devoto. Não obstante, a teologia de Kellogg, levada até sua conclusão lógica, remove a necessidade de um salvador. Deus, afirmava ele, estava em todas as coisas – no ar que respiramos (na forma do Espírito Santo), na luz do sol, até mesmo nos gramados que se estendiam fora se sua casa. Se Deus está em tudo, ele deve estar também no homem; e assim, todo ato humano se torna um ato de Deus. A divindade se torna tão interna ao homem que o próprio pensamento de um salvador externo se torna sem sentido.

Não há salvador – não há nada fora do homem. Isso, levado a um extremo que Kellogg jamais pode perceber plenamente, é a mensagem fundamental do alfa. Agora segue-se o simbolismo lógico de duas letras, partilhando da mesma matéria de um alfabeto mas localizadas em extremos opostos. Se o alfa é um erro concernente ao papel de Cristo na salvação, e se ele aponta em certa direção no alfabeto grego, será possível que o ômega também interpretará mal a obra de Cristo apontando ao mesmo tempo em sentido oposto? Em outras palavras, há uma possibilidade de que o ômega de “heresias letais” tentará colocar Cristo totalmente fora do homem, introduzindo assim confusão sobre a santificação porque torna a salvação totalmente externa?

É uma questão que merece a mais séria reflexão. O papel e a obra de Cristo são as verdades centrais do cristianismo. Fique confuso sobre a obra de Cristo, quer no santuário celestial ou na vida, e, como Daniells tão adequadamente o expressou, “tudo tomba”. em 1904 pediu-se aos adventistas que cressem numa nova doutrina que tornava a salvação completamente interna. Era um erro enormemente atraente, perfeitamente calculado para atrair as pessoas numa era de otimismo na qual todos, desde financistas até ministros, falavam sobre o avança humano.

Mas que dizer de uma época posterior, na qual um mundo desiludido olha para trás através dos destroços de seu século e vê apenas guerras sem fim, grande depressão e luzes se apagando sob um céu impróprio para respirar? Que dizer dos adventistas, exaustos e desencorajados, maduros para algo que parece oferecer uma saída mais fácil do infindável desafio? A este grupo de pessoas o diabo jamais poderia esperar vender o imensurável otimismo do alfa. Mas ele podia fazer outra coisa, em um mundo de cabeça para baixo ele podia virar o alfa de cabeça para baixo. Ele podia tomar o mesmo assunto e abordá-lo a partir do extremo oposto, ele podia saltar para o fim do alfabeto e encontrar o ômega. E suas palavras, caindo sobre uma igreja cansada, poderiam soar como música: “Relaxe; a obra está feita e o tem estado há séculos. Sua única tarefa é crer nisso”.

E de um golpe o enganador-mestre teria levado o adventismo de volta no tempo a um ponto antes de seu início, apagando o movimento de Deus como alguma estranha distorção de tempo de ficção científica. Pois o dom singular do adventismo para o mundo é seu senso de urgência, uma certeza de grandes eventos que requerem grande preparação. No próprio momento de seu nascimento o adventismo produziu a mais esplendida exibição de fé e obras desde o Pentecostes. Os crentes haviam levado a palavra fé além do mais vertiginoso pico que Lutero jamais sonhou atingir; eles não haviam apenas crido em Cristo, mas haviam esperado vê-lo, e a perspectiva de tal evento se tornou mais real para eles do que a vida na terra. Logo, criam eles, contemplariam Sua face, viveriam com os anjos, testemunhariam para os mundos não caídos. Não se abordaria este tipo de perspectiva em descuidosa indiferença sobre sua qualidade de vida. “Estamos nos preparando para encontrar Aquele que, acompanhado por um séquito de anjos, deve aparecer nas nuvens do céu para dar aos fiéis e justos o toque final da imortalidade” (Testemunhos Seletos, vol 2, p 255), havia escrito Ellen White, e suas palavras captam perfeitamente a urgência de 1844. Era um tempo solene, um exemplo do que é realmente crer que Jesus está voltando. Velhos erros foram concertados. “muitos buscavam o Senhor com arrependimento e humilhação. Fixavam agora no céu as afeições que durante tanto tempo se haviam apegado às coisas terrenas…

“As barreiras do orgulho e reserva foram varridas. Fizeram-se confissões sinceras e os membros da família trabalhavam pela salvação dos mais queridos e dos que mais perto se achavam. Freqüentemente se ouvia a voz de fervorosa intercessão” (Grande Conflito, 368) E o resultado? Um poder para testemunhar depois disso imitado, mas raras vezes alcançado: “Vastas multidões escutavam silenciosas e extasiadas, às solenes palavras. O céu e a terra pereciam aproximar-se um do outro… Pessoa alguma que haja assistido àquelas reuniões jamais poderá esquecer-se dessas cenas do mais profundo interesse” Idem p. 368,369

Se a igreja de Deus houvesse continuado dessa maneira, não teria havido nada que ela não pudesse ter feito – o diabo tinha de arranjar uma forma de embotar essa mensagem. E pouco lhe importava se o povo de Deus errava pensando que a salvação era inteiramente interna, ou se renunciariam, finalmente, sob as nuvens do fim do tempo que se ajuntavam, confiando em algo que se disfarça como fé e terminasse como um fracasso. Para ele havia apenas uma necessidade: ele tinha de desviar o povo de Deus do plano divino.

Era uma situação notavelmente similar à que Israel enfrentou no Jordão. Quando obedientes a Deus, eles eram invencíveis. Não havia nenhum rei Balaque que pudesse impedi-los, nem mesmo alugando um profeta que indefeso pronunciou bênçãos sobre a nação que fora subornado para amaldiçoar. Contudo havia uma saída. O povo de Deus podia ser conquistado se eles deixassem de agir como seu povo. Balaão era impotente para amaldiçoar a Israel, mas ele ainda podia trazê-los à beira do desastre com um esquema sutil que os levasse para fora da proteção da lei de Deus. As bênçãos de Deus eram gratuitas, mas eles poderiam perder o direito a elas.

Assim com o adventismo. A igreja de Deus estava agora perante o Jordão – o Jordão na primavera, na época de cheia, correndo para o Mar Morto, o símbolo de um mundo furioso pelo qual Seu povo teria de passar em sua jornada rumo ao lar. Não havia maneira humana de passar através daquele furioso rio, contudo eles podiam fazer a travessia – salvos sob a arca de Deus, que continha Sua lei. Esta era a mensagem singular do adventismo. Grandes mudanças se aproximavam; o mundo se dirigia para seus eventos finais, e não havia nada mais importante que preparar-se. Nenhum grupo religioso na história moderna jamais fez os reclamos que fizeram os adventistas: reclamos de novas e grandes compreensões sobre a própria estrutura do céu, onde Jesus estava julgando o mundo por uma norma chamada lei de Deus. Toda a razão de ser do adventismo era encontrada nessa mensagem. Diante do mundo os crentes haviam elevado a arca e chegado às bordas do Jordão, e a mais inconcebível de todas as calamidades era a de que eles podiam de alguma forma, aqui na margem, tropeçar e deixá-la cair.

Esta era a questão, e aí satanás escolheu dirigir seus ataques sobre a igreja, justamente como Ellen White disse que ela faria. Os ataques contra o adventismo sempre pareceram envolver suas doutrinas particulares, atingindo as elevadas normas de Deus para Seu povo – ou dizendo que os requisitos eram desnecessários ou declarando-os inatingíveis. Aqui Canright havia naufragado, desafiando abertamente a lei, o sábado, a inspiração do Espírito de Profecia. John Kellogg, aproximando-se do mesmo recife, por outra direção, havia também soçobrado na fé com idéias não demonstradas que eliminavam o juízo investigativo e colocavam o santuário de Deus dentro do corpo humano. Ballenger, McCoy, Conradi – todos seguiram rotas semelhantes, encalhando onde pensavam ter visto um canal desimpedido que levasse à verdade. E, ao assim fazeres, estariam inconscientemente demonstrando o papel das obras no adventismo.

O comportamento dos que advogaram o alfa proporciona algumas elucidações fascinantes quanto aos efeitos de falsas doutrinas e dá alguns sinais extremamente úteis para reconhecê-las quando elas reaparecerem. O próprio Cristo disse que às vezes pode ser extremamente difícil detectar a heresia, em particular quando ela é habilmente adaptada para satisfazer à condição mental de sua época. No fim do tempo, apareceriam erros capazes de enganar os “próprios escolhidos”, uma profecia cumprida com triste precisão no alfa, que arrebatou a muitos da elite espiritual do adventismo. Deus deu, assim, em Sua sabedoria, um segundo meio pelo qual podem ser detectados a verdade e o erro: Frutos. O comportamento humano. Os meios pelo qual as pessoas saem promovendo as coisas que são importantes para elas. E o meio usado pelos “reformadores” de 1905 parecia uma lista de sinais de advertência dos quais se poderia esperar a verificação no engano chamado Ômega. Encabeçando a lista está a mesma tática que Lúcifer usou para dar a conhecer à humanidade o pesadelo do pecado. É chamada desonestidade.

“A disputa se tornará cada vez mais feroz” advertiu Ellen White em 1898. “Dispor-se-ão mentes contra mentes, planos contra planos, princípios de origem celeste contra princípios satânicos”. E então ela predisse as táticas que alguns usariam. “Há homens que ensinam a verdade, mas que não estão aperfeiçoando seus caminhos diante de Deus, que estão tentando dissimular sua apostasia, e encorajar uma alienação de Deus” Special Testimonies, Série A, n 11, p5,6

“De nosso próprio meio se levantarão falsos mestres, dando ouvidos a espíritos sedutores cujas doutrinas são de origem satânica. Estes mestres arrastarão discípulos após si. Infiltrando-se sem serem notados, usarão palavras jactanciosas e farão hábeis embustes com tato sedutor” (MS 94, 1903). Quase no mesmo fôlego ela disse que “falsas teorias estarão misturadas com cada fase da experiência e serão advogadas com fervor satânico a fim de cativar a mente de toda alma que não estiver arraigada e fundamentada no pleno conhecimento dos sagrados princípios da palavra”. Idem.

Estas predições haviam se cumprido tragicamente no caso do Dr. Kellogg e o círculo íntimo de seguidores que apoiavam suas manobras em Battle Creek. foram postos em ação tramas secretos, que por certo tempo não foram conhecidos senão pelos conspiradores – e a mensageira do Senhor, que viu os encontros deles em visão naquela noite. Em 1905 seus planos estavam quase maduros; o sanatório de Battle Creek permaneceria pouco tempo mais como instituição adventista, e Ellen White proclamou em alta voz um alarme a igreja. “Desejo fazer soar uma nota de adventícia a nosso povo de perto e de longe. Os que estão na vanguarda da obra médica em Bettle Creek estão fazendo um esforça para obter controle de uma propriedade que à vista das cortes celestes, não têm direito de controlar. …Está em andamento uma obra enganadora para obter uma propriedade de maneira clandestina. Isto é condenado pela lei de Deus. Não mencionarei nomes. Mas há médicos e ministros que têm sido influenciados pelo hipnotismo exercido pelo pai das mentiras. Apesar das advertências dadas, os sofismas de satanás estão sendo aceitos agora da mesma forma como o foram nas cortes celestiais” (Special Testimonies, Série B, n 7, p30). Antes ela havia escrito uma carta comovente a seu filho, que enfrentava a fúria da apostasia de Michigan. “O médico está se esforçando para laçar firmemente as instituições médicas de acordo com suas palavras, como satanás trabalhou nas cortes celestiais para laçar anjos, a quem induziu a se unirem a seu partido para trabalharem a fim de criar rebelião no céu”. E então ela acrescentara: “sinto muito por você, Willie. Desejo não estar em Battle Creek. Mas permaneça firme pela verdade” Carta a W.C. White, 05/08/1903 (Grifos acrescentados)

As mesmas táticas agora se espalhavam por outras áreas. Kellogg e seus colaboradores, desmascarados pela mensageira de Deus, voltaram seus ataques contra ela. Dúvidas sutis sobre a fidedignidade de suas mensagens foram muitas vezes lançadas por obreiros que por razões táticas ou de emprego fingiram estar dando seu apoio (Kellogg podia manter as pessoas encantadas ao inundá-las de histórias sobre como ele havia “preparado uma armadilha para a Irmã White”, e como os testemunhos dela para ele eram alimentados por informações falsas fornecidas por A.G. Daniells e “Willie chorão” White). tudo isso Ellen White viu e descreveu com serena precisão. “Muito habilmente têm alguns trabalhado para tornar sem efeito os testemunhos de advertência e reprovação que têm resistido à prova por meio século. Ao mesmo tempo negam estar fazendo tal coisa”. Special Testimonies, Série A, n 11, p31

Verdade. O artigo mais essencial do mundo. Nossa própria sobrevivência depende dela. Cada dia confiamos absolutamente em informações precisas sobre mesmo as coisas mais simples como a cor do sinal de trânsito ou a capacidade de carga de uma viga. sem verdade não há segurança, quer num sentido físico ou espiritual. É o único canal pelo qual Deus Se comunica; e a verdade estava sendo manipulada por homens que afirmavam ter uma mensagem de reforma para a igreja de Deus, homens que não estavam sendo honestos nem mesmo sobre suas verdadeiras intenções.

“Antes do desenrolar dos recentes eventos, o procedimento que o Dr. Kellogg e seus associados seguiriam foi claramente delineado perante mim. Ele e outros planejavam como ganhar a simpatia do povo. eles procurariam dar a impressão de que criam em todos os pontos de nossa fé, e tinham confiança nos testemunhos. Assim muitos seriam enganados, e tomariam posição ao lado dos que se haviam apartado da fé”. – Carta 328 de Ellen White, 1906

Tudo isto leva a outra característica do alfa, sobre a qual o povo de Deus no fim do tempo precisa ser especialmente advertido. Esta tática é a hábil manipulação de pessoas. Os líderes do alfa tinham se dedicado tanto a mudar a igreja que parecem ter decidido que os fins justificam os meios. Anunciaram planos deliberados de representarem ser fiéis adventistas que criam na verdade, mas que possuíam nova luz que, se a irmã White pudesse ter uma visão clara a respeito da mesma, ela própria a adotaria, mesmo homens, como Dr. David Paulson iludido durante algum tempo por Kellogg, pensavam honestamente que a nova teologia era apoiada pelos escritos de Ellen White, um erro que, advertiu ela, Kellogg estava tentando difundir a todo custo. Foi um engano executado de maneira magistral, e o resultado foi um núcleo de pessoas brilhantes e influentes que se agruparam em torno de um homem e um novo movimento, mesmo que isso significasse ter de deixar a igreja.

Isto tem uma profunda importância para as pessoas que estão atentas para identificar o ômega. As verdades de Deus são tão entrelaçadas, tão firmemente coerentes, que desviar-se delas quase sempre envolve um estímulo distrativo, como um indivíduo de personalidade carismática. Há uma poderosa tendência humana de seguir a liderança forte, especialmente se esse líder irradia carisma. Nações inteiras – milhões de pessoas – têm feito exatamente isso, seguindo um homem até sombras profundas onde não penetra o sol. É uma ameaça à qual nem mesmo o povo de Deus está imune. Ellen White adverte que há uma classe de pessoas particularmente vulnerável a esta tática. “Há muitos que não aperfeiçoaram um caráter cristão; não tornaram a vida pura e imaculada através da santificação da verdade; e trarão suas imperfeições para dentro da igreja, e negarão sua fé, adotando teorias estranhas, que promoverão como se fossem verdades” (MS 145, 1905) – (Há um ponto aqui que deve ser explorado um momento. Se um falso líder percebe isto, se compreende que as imperfeições na vida de seus seguidores os liga mais fortemente a ele e suas teorias, haverá uma poderosa motivação para que ele delineie uma teologia que deixe as pessoas confortáveis em seus erros).

“Idéias brilhantes, cintilantes, muitas vezes relampejam de uma mente que se acha influenciada pelo grande enganador. Os que escutam e aquiescem ficarão encantados, como ficou Eva pelas palavras da serpente. Eles não podem dar ouvidos a encantadoras especulações filosóficas, e conservar ao mesmo tempo clara na mente a palavra do Deus vivo” 1 ME 197

Uma noite em 1904, antes de partir de Washington para Berrien Springs, Ellen White viu uma reunião em andamento em Battle Creek. “(Kellogg) estava falando, e ficou cheio de entusiasmo com respeito a seu tema. …em sua apresentação ele disfarçou um pouco o assunto, mas em realidade esta apresentando… teorias científicas que são semelhantes ao panteísmo.

“Após considerar o semblante satisfeito, interessado, dos ouvintes, alguém que estava ao seu lado me disse que os anjos maus haviam dominado a mente do orador”. E Ellen White acrescentou que ficou atônita ao ver com que entusiasmo eram recebidos os sofismas e teorias enganadoras” Special Testimonies, Série B, n 6, p41

Havia perigo até em discutir tais assuntos com líderes do alfa, e isto novamente envolvia honestidade básica. “Quando ocupados em discussão sobre estas teorias, seus defensores tomarão as palavras faladas para se opor a eles. e farão com que elas pareçam significar justamente o oposto do que quem as falou queria dizer” (Idem). Em outras palavras, até falar com esses homens seria correr o risco de ter as próprias palavras citadas incorretamente, torcidas de forma a parecer que apoiassem as idéias de Kellogg. Assim os conspiradores do alfa podiam fazer parecer que multidões estavam “com eles”, e que seus seguidores eram em número muito maior do que eram na realidade. Um jogo mortal, com regras heterodoxas que os líderes de Deus não poderiam usar – um jogo que mexia com mentes humanas, como peões num tabuleiro de xadrez, cujo prêmio para o vencedor seria, em última instância, o controle da igreja. Pode-se dizer uma coisa com certeza: o jogo do alfa era jogado com ardor e suas conseqüências seriam eternas.

Para executar seus alvos persuasivos, Kellogg e seus seguidores usaram alguns mecanismos psicológicos fascinantes. As reuniões eram freqüentemente realizadas à noite, a às vezes nas primeiras horas da manhã, quando os ouvintes estavam cansados e menos capazes de pensar por si próprios. “As longas entrevistas noturnas que o Dr. Kellogg realiza são um de seus mais eficazes meios de conseguir seu intento. Seu constante fluxo de palavras confunde a mente dos que ele está procurando influenciar. Ele expõe e cita palavras erroneamente, e coloca os que discutem com ele numa luz tão falsa que suas faculdades de discernimento ficam amortecidas. Ele cita as palavras destes dando-lhes um cunho que faz com que elas pareçam significar exatamente o oposto do que eles disseram” (Carta 259,1904) Ellen White escreveu a ele em angústia, lembrando-o de que essas mesmas táticas haviam antes sido usadas, e haviam causado a queda de um terço dos anjos do céu. Lúcifer também havia usado habilmente a técnica de ir de anjo em anjo, arrancando deles declarações que ele então repetia a outros anjos, dando-lhes um falso sentido. Era uma tática assoladora que fazia com que ele parecesse ter mais apoio do que existia em realidade, enquanto ao mesmo tempo isto era usado para lançar descrédito sobre os que eram leais a Deus, enfraquecendo a credibilidade destes e, dessa forma, sua influência ao lado da verdade. Era uma tática contra a qual nem mesmo Deus tinha qualquer medida defensiva exceto o tempo – e a certeza de que um dia Lúcifer iria longe demais e cometeria uma asneira que removesse o verniz superficial que encobria seu verdadeiro caráter.

A técnica do mexerico parece ter sido uma parte do alfa, e é um perigo contra o qual a igreja de Deus deve estar especialmente alerta. “Mesmo em nossos dias continuará a haver famílias inteiras que uma vez já se regozijaram na verdade, mas que perderão a fé por causa das calúnias e mentiras que lhes são trazidas com respeito àqueles que têm amado e com quem têm tido agradáveis trocas de idéias”. O erro deles estava em ouvir. “Eles abriram o coração à semeadura do joio; o joio brotou no meio do trigo… e a preciosa verdade perdeu o poder para eles”. Por algum tempo, como ocorreu com Eva, a excursão deles nesse novo jogo de mexerico e falsa teologia trouxe um estranho senso de excitação: “Falso zelo acompanhou suas novas teorias, o que lhes endureceu o coração contra os defensores da verdade como ocorreu com os judeus em relação a Cristo” Special Testimonies, Série A, n 11, p9,10

Portanto, o carisma, o uso hábil de inverdades sobre pessoas do lado direito, e o apelo para seguir personalidades, foram todos grandes fatores na apostasia que arrebatou da igreja até mesmo homens que haviam uma vez dado a terceira mensagem angélica “em verdade”. Todo artifício foi empregado para atrair lealdade a um homem e suas idéias vistosas, mas sem valor, e a técnica funcionou com impressionante sucesso. É uma ameaça quanto à qual o povo de Deus deve estar vigiando com profunda atenção para assegurar que ela não volte a ocorrer. E para aqueles que se sentem atraídos pelo magnetismo de uma personalidade, que ficam intrigados com novas idéias que podem seduzir até mesmo pensadores de destaque, há uma advertência emitida em 1905: “Tenho receio dos homens que adentraram o estudo da ciência que satanás introduziu na guerra no céu. … Tendo eles aceito a isca, parece impossível quebrar o encanto que satanás lança sobre eles” Carta Ellen White para os irmãos Daniells e Prescott e seus associados, 30/10/1905, coleção J.H.N. Tindall.

O ponto principal a ser lembrado é que a real questão era o controle da igreja. Se suficiente número de pessoas pudessem ser convertidas à nova teologia, se as igrejas pudessem enviar tais “conversos” às reuniões onde se realizavam eleições, se as instituições pudessem ficar abarrotadas de pessoas devotadas à causa do alfa, a igreja finalmente seguiria este rumo, quer A.G. Daniells e Ellen White gostassem ou não. Há toda razão para crer, pelos escritos de Ellen White, que se estavam envidando esforços conscientes e bem estruturados a fim de subverter a própria organização da igreja. Note a escolha de palavras em uma advertência dada por ela em junho de 1905: “Devo advertir a todas as nossas igrejas a que se acautelem contra homens que estão sendo enviados para fazer a obra de espiões em nossas associações e igrejas – uma obra instigada pelo pai da mentira e engano” Special Testimonies, Série A, n 12, p9. Ela advertiu alhures que “no campo têm havido muitos traidores disfarçados, e Cristo conhece cada um deles. Deus tem sido desonrado por súditos desleais. … Aos que residem em Battle Creek, digo: Por amor a vossas almas, que todos quantos possam, se afastem da luta que aí se desenrola e de seus perigos” Special Testimonies, Série B, n 7, p15.

A “luta” e os “perigos” aos quais ela fez referências estavam se tornando acentuados em 1906. Já em 1902 membros da igreja haviam ameaçado processar a igreja para evitar a localização de Review & Herald Publishing Association novamente em Washington, D.C. Agora este espírito de luta e coerção veio novamente à tona. O grande tabernáculo de Battle Creek se tornou o ponto focal de uma disputa pelo controle; abriu-se um processo no tribunal de Michigan para evitar a transferência da propriedade da igreja para a associação adventista local. Os membros leais à igreja finalmente venceram, mas somente depois de uma luta espetacular de dois anos. Até mesmo um jornal de Chicago anunciou sob manchetes na primeira página que a Igreja Adventista estava a ponto de se dividir “em duas”, e colocou a maior parte da culpa em Ellen White. todo este triste caso serviu para ilustrar outro ponto da identidade do alfa: Onde quer que fosse, surgiriam problemas

O mesmo havia sido visto na apostasia de Ballenger. Informando das Ilhas Britânicas, o pastor Farnsworth havia dito que Ballenger “Tem propalado estas coisas em grau maior ou menor até que disse que o irmão Hutchinson na Irlanda via o assunto da mesma forma que ele, como também um número significativo de irmãos leigos influentes. O irmão Meredith que está encarregado da obra no País de Gales disse que um bom número de irmãos leigos nesse país estava contrariado com este ponto de vista, e, no norte da Inglaterra o irmão Andross está tendo sérias dificuldades na igreja de Birmingham e também em outros lugares, com alguns dos irmãos de influência, com respeito ao assunto do santuário. …De algum modo esta negra nuvem de apostasia tornou as coisas difíceis para nós” (Carta de A. G. Daniells para W.C. White 16/03/1905). E em Battle Creek, Kellogg havia recentemente trabalhado por trás da cortina num esforço inútil, mas importuna, a fim de remover do cargo a liderança da Conferência Geral. Havia um capricho determinado em tudo isto para mudar a igreja – se possível por um processo político, mas se necessário pela subversão - e a descrição de Ellen White é bem precisa: “coisa alguma se permitiria opor-se ao novo movimento”. ME, v1, p205. Havia uma estranha crueldade, que raras vezes (se é que alguma vez) fora vista antes, na qual amizades de longa data já não pareciam valer muito e a lealdade tradicional desapareceu misteriosamente. John Kellogg havia recebido ajuda financeira dos White durante toda a sua estada na escola de medicina: Agora ele se voltava para seus velhos amigos com ataques mordazes. Mesmo Frank Belden, compositor de hinos adventistas e sobrinho da Sra. White, tentou sem sucesso enganá-la para que emitisse um falso testemunho, e depois abriu um processo contra membros leias que estavam tentando proteger a propriedade da igreja. A toda parte que ia a nova teologia parecia haver problemas, trazidos por “línguas daninhas e mentes aguçadas, afiadas por longa prática em evadir-se à verdade”, que estavam “em contínua atividade para introduzir confusão, e a executar planos a que são instigados pelo inimigo”. ME v1, p194,195

Como vimos anteriormente, outra característica do alfa era a maneira pela qual ele tentava atingir os jovens da igreja adventista. Depois que foi impresso The Living Temple, Kellogg o enviou às associações locais e tentou alistar os jovens paras sua distribuição e venda. Ele também reanimou o Colégio de Battle Creek, o que colocou muitos estudantes sob a instrução de seus mais brilhantes auxiliares. Tormando-os numa idade propícia a receber impressões, colocando-os no ambiente de uma sala de aulas na qual o instrutor tradicionalmente goza de alta credibilidade, esperava ele ganhar muitos adeptos dentre a nova geração da igreja. E assim os proponentes da nova teologia teriam uma forte segunda linha de ataque. Se não tivessem sucesso em impor seu ponto de vista sobre a igreja, precisavam somente aguardar, treinar pacientemente estudantes e então espalhá-los pelo campo mundial, de forma que a própria estrutura da obra organizada começaria a mudar imperceptivelmente. E um dia os dissidentes teriam a influência e os votos, talvez, para tornar oficial a mudança. Em alguns aspectos, esta pode ter sido a mais perigosa de todas as táticas. e a esta altura, a sra. White estava preparada para colocar tudo, inclusive a própria vida, na linha de batalha. “Não permita Deus que uma só palavra de encorajamento seja proferida para chamar nossos jovens para um lugar onde serão corrompidos por falsas informações e mentiras referentes aos testemunhos, e à obra e caráter dos ministros de Deus. Minha mensagem se tornará cada vez mais aguda, como era a mensagem de João Batista, mesmo que isso me custe a vida. As pessoas não serão enganadas” Special Testimonies, Série b, n 7, p34.

Faz-se às vezes a observação descortês de que Ellen White não se importava com as realidades que os jovens da igreja enfrentavam. Em 1904 ela estava pronta a morrer por eles. Finalmente, os que estavam envolvidos na apostasia alfa tinham outro ponto em comum: Eram opostos ao Espírito de Profecia. Os motivos disto não são difíceis de se entender; muitas de suas idéias preferidas estavam em frontal oposição a Ellen White. Sob o poder do Espírito de Deus, seus planos ocultos foram muitas vezes trazidos à luz, suas reuniões presenciadas mesmo a grandes distâncias. Não tendo a verdade divina a seu lado, eles precisavam recorrer a algum substituto, e o recurso mais fácil parecia ser muitas vezes ataques pessoais à mensageira que Deus escolhera usar. Nada havia de novo nesta tática; pode ser vista desde o tempo de Cades-Barnéia, onde Israel - em plena vista da nuvem divina – censurou Moisés por traze-los a uma difícil travessia do deserto. E o resultado, nesse tempo como mais tarde, sempre foi a separação das bênçãos de Deus.

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